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Com 132 casos notificados entre 2016 e 2017 enfermagem alerta sobre a hanseníase

Profissionais do Hospital São Julião revelam que o preconceito em ralação a doença ainda é tabu que precisa ser quebrado

20.09.2018

A equipe de enfermagem do Hospital São Julião, alerta que a hanseníase deve ser mais estudada e discutida pelos profissionais da saúde para que a intolerância e o preconceito tenham fim, até mesmo entre os colegas de profissão. Segundo a enfermeira, Dra. Fabiana Pisano, uma das responsáveis pelo setor de atendimento da doença do hospital, a falta de informação prejudicam os portadores dessa patologia. A profissional revela que todos devem estar atentos, pois os números, segundo ela, são alarmantes, entre 2016 e 2017 sua equipe atendeu 132 casos.

Dados apontam que somente o São Julião, referência no Mato Grosso do Sul, notificou em 2016 75 casos, já em 2017 foram 57 notificações, números somente de pessoas que são tratadas pelo hospital. Ainda conforme administração, no geral, o hospital trata atualmente pelo menos 180 pacientes diagnosticados com a doença.

A enfermeira Fabiana Pisano explica que a hanseníase pode ser percebida por meio de manchas clara ou avermelhada que aparecem na pele e dores sentidas nos nervos. Ela é transmitida pelas secreções da pessoa contaminada, o tratamento deve ser feito por antibiótico-terapia prescrito pelo médico.

“Temos muitos pacientes que passam por vários locais antes de chegarem até nós e não sabem que estão com hanseníase e chegam ao São Julião com sequelas graves devido ao avanço da doença. É importante tratar desde o início”, afirmou Dra. Fabiana.

“Somos referencias para os 79 municípios, recebemos pacientes em estado reacional, ou seja, quando começa o tratamento inicia também as reações que a própria doença pode causar no sistema imunológico”, acrescentou.

Dra. Fabiana Pisano

A enfermeira explica que são quatro tipos da hansen, existe a indeterminada e a tuberculóide, são fases iniciais que não são transmitidas, nesses casos os tratamentos duram seis meses. Já a dimorfa e a multibacilar são as mais graves e contagiosas, o tratamento vai de um a três anos devido a quantidade de bacilos que tem no organismo. Tanto adultos ou crianças correm os mesmos riscos, pois ela se contrai pelo contato.

“Dependendo do grau de evolução da doença a pessoas já pode estar com a perda da sensibilidade das mãos quanto dos pés”, explicou.

“Muitos se ferem e não cuidam corretamente de suas feridas o que pode chegar a um grau de infecção osteomielite, infecção no osso, e assim pode ocorrer amputação do membro devido a forte infecção”, acrescentou.

A enfermeira ressalta que no São Julião os pacientes são tratados por uma equipe multidisciplinar formado pelos médicos especialistas, enfermeiros (a), técnicos (a) de enfermagem, fisioterapeutas, psicólogos (a).

O tempo de encubação da doença, conforme o Ministério da Saúde é de dois a cinco anos, porém as enfermeiras do hospital já constaram casos de pessoas que apresentaram a doença depois de dez anos.

O verdadeiro mal: Preconceito

De acordo com a Dra. Fabiana, mesmo com todos os tratamentos, as pessoas que tem hanseníase sofrem com o preconceito da sociedade que desconhecem o assunto sobre a doença. Há aqueles que são demitidos do trabalho, quando seus patrões descobrem que os funcionários faz tratamento da hanseníase.

Fabiana explica que ao iniciar o tratamento, já no primeiro mês, o paciente já reduz as chances de transmissão em 90%. O comprimido Dapisona foi o primeiro remédio a existir para o tratamento, mas com estudos foi percebido que a doença era resistente ao remédio. Desse modo, em 1986, começou a polioquimioterapia, conjunto de várias drogas. Uma vez por mês o paciente toma o remédio sob supervisão do hospital, e o restante da cartela, com 28 comprimidos, leva para casa e assim dar continuidade ao tratamento.

“Para reduzir os casos e conscientizar a sociedade em geral, pois os números são altos, o governo deve investir mais para os tratamento e conhecimento da doença”, indagou.

Profissionais mais preparados

Sra. Rejane Sampaio

A técnica de enfermagem Sra. Rejane Sampaio Ramos, que atua no São Julião há 25 anos, disse que o preconceito acontece até mesmo entre os que deveriam tratar as pessoas. “Acredito que os profissionais da enfermagem devem ter mais conhecimento sobre a hanseníase, pois já presenciei colegas que atendem pacientes e usam o álcool após o atendimento. Isso ocorre por desconhecerem a forma real de como a doença é transmitida”, revelou.

“Casos que até dentistas se recusaram atender pacientes, pelo preconceito. Na área da saúde a gente não pode escolher as doenças, temos que escolher tratar do doente seja qual for o problema dele”, disse.

O paciente, Luiz Carlos Quadros, 64 anos, de Iguatemi – cidade a 473 km de Campo Grande, elogiou o trabalho da equipe multidisciplinar e destaca o atendimento da enfermagem em seu tratamento.“Venho duas vezes por mês para me consultar. Olha essas meninas são nota dez, desde que comecei a fazer o tratamento não tenho o que reclamar”, elogiou.

Luiz Carlos

Luiz Carlos descobriu em novembro do ano passado que estava com hanseníase e desde então faz o tratamento. “Logo no início da doença, antes de saber que era a hanseníase, eu sentia dores nos nervos e achava que era reumatismo. Eu pedia ajuda e o ‘povo’ falavam que era reumatismo, outros diziam ser nervos atrofiados”, lembrou.

Senhor Carlos relata que sentia dormência nas mãos, tanto que um dia cortou o dedo, um corte profundo, e não sentiu nada. “Há poucos dias me cortei de novo e nem sei como foi, é uma doença muito triste”, relatou.

O paciente é casado com uma mulher de 35 anos, o casal mora em uma chácara em via que dá acesso indo ao município de Tacuru.

São Julião e sua história

O diretor administrativo da AARH (Associação Auxilio e Recuperação dos Hansenianos), senhor Amilton Fernandes Alvarenga contou um pouca de como iniciou a história do Hospital São Julião, localizado nas proximidades do jardim Columbia – região norte da Capital, no que ainda era chamado Mato Grosso.

Segundo Amilton, no final da década de 30 onde os índices de hanseníase eram muito altos no Brasil, a doença não tinha cura e se alastrava por todo país. O então presidente, Getúlio Vargas, teve a ideia isolar os doentes.

Desse modo Vargas iniciou um projeto nacional de construir em torno de 35 asilos colônias para segregar, as pessoas que tinha o diagnóstico de estágio avançado. Então em cinco de agosto de 1941 o São Julião foi inaugurado com a presença do presidente Vargas.

Muitos eram internados no asilo de forma compulsória, muitos pais, que tinha a doença, eram separados dos filhos. Os pequenos seguiam para o Educandário que hoje é chamado de Educandário Getúlio Vargas, localizado no bairro Coronel Antonino – região norte de Campo Grande. O asilo era uma minicidade, tinha cemitério, cadeia tinha até mesmo uma mercearia. E os filhos ficavam no educandário.

“O local foi construído com esse objetivo, para abrigar pessoas com a hanseníase, pois na época a lei permitia que as pessoas fossem pegas em casa e trazidas obrigatoriamente para o hospital”, relatou Amilton.

“Era exclusivamente às pessoas com hansen, para evitar o contágio com outras pessoas. Em casos de hanseníase, atualmente, o Brasil está em segundo lugar ficando atrás da Índia”, acrescentou.

O atual administrador do hospital disse que de 1940 até meados de 1960 o local chegou a ter 300 pessoas que ficaram alojadas fazendo o tratamento. E nessa mesma época o hospital passou da

Irmã Sílvia Vecellio em uma de suas visitas no asilo

gestão Federal à Estadual, e nesse momento a Irmã salesiana, Sílvia Vecellio, hoje com 86 anos, que veio da Itália para dar aula no Colégio Auxiliadora e dentro de suas atividades religiosas acabou chegando ao educandário.

E com isso as crianças de lá pediam a ela informações sobre seus pais, então a freira foi até o hospital e presenciou um cenário de repleto abandono, sofrimento e descaso com as pessoas que lá estavam. Então Sílvia passou a frequentar o leprosário em 1970 e montou uma associação de pessoas da sociedade civil de Campo Grande, criando um vínculo maior com uma ONG (Organização não Governamental) da Itália, que chamava Operação Mato Grosso, mesmo nome do Estado na época, pois ainda não havia a divisão, que ajudou o hospital de forma financeira.

Paciente durante tratamento

E com esse apoio ela montou uma associação e requisitou do Estado e da União o Leprosário São Julião e a partir da década de 70 montou-se uma instituição filantrópica. Em 1970 o tratamento ainda era de exclusividade aos que tinha Hanseníase, já em 1986 com as chegadas das drogas, ou seja, dos novos medicamentos, deixou de ser necessária a internação no hospital, pois com o início do tratamento a doença deixa de ser 90% transmissível. O perfil do hospital então começou a sofrer mudanças atendendo outras especialidade.

 

Acervo: São Julião 

 

 

 

 

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