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Bem-estar à moda antiga


11.06.2013

 

 

Mesmo com toda a modernidade, há famílias em que o filtro de barro e o coador de pano estão longe de ser aposentados. Não se trata apenas de saudosismo, dizem especialistas. Hábitos do tempo da vovó são comprovadamente benéficos à saúde

 

Enquanto alguns sonham com a cafeteira mais moderna ou com o filtro sofisticado, há quem prefira seguir usando objetos antigos. O costume herdado de outras gerações ou a simples sensação de lidar com algo conhecido justifica os hábitos saudosistas. Há quem diga que tanto apego ao passado trata-se de teimosia. Mas especialistas mostram que certos objetos e práticas considerados antiquados podem ser opções simples para se ter qualidade de vida. Em tempos de liderança mundial no uso de agrotóxicos — desde 2008, o Brasil é o maior mercado desses produtos no mundo, segundo o Observatório da Indústria dos Agrotóxicos da Universidade Federal do Paraná —, nada melhor do que garantir a integridade das refeições no quintal de casa ou nos vasinhos da varanda do apartamento. Você pode até ser um amante das soluções instantâneas e dos equipamentos modernos. Mas reconheça, aconselham especialistas: no quesito práticas domésticas, as vovós têm mais razão.
Em casa e no trabalho

Thiago Muniz, de 33 anos, nem pensa em trocar o filtro de barro, que tem em casa, por um mais moderno e sofisticado. “Enquanto ainda venderem, eu compro”, conta o analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama). Ele usa o recipiente desde pequeno e sente a diferença quando se depara com outras formas de filtragem. “Todas dão um gosto na água, mas eu prefiro o gosto que o filtro de barro deixa”, acrescenta.

Desde que ele e a mulher, Daniela Machado, de 33 anos, se mudaram para Brasília, em 2006, compraram o filtro para a casa nova. Não satisfeito, Thiago Muniz se juntou a colegas do trabalho para ratear um recipiente para a seção em que trabalham. “Geralmente, os comentários de quem passa por aqui são positivos e até saudosistas. Um ou outro comenta do trabalho que dá para ficar enchendo”, conta o mineiro crescido em Uberlândia.

Não é só o gosto que faz a diferença. Colin Ingram, autor de uma pesquisa sobre a purificação da água que deu origem ao livro The Drinking Water Book (O livro da água potável, em tradução livre), classificou o filtro de barro como um dos mais eficientes do mundo. O carvão ativado presente na vela é responsável pela retenção de 80% a 99% das substâncias orgânicas, tais como pesticidas e herbicidas; além de retirar cloro, gostos e cheiros ruins que possam estar presentes na água. A cerâmica da qual a vela é feita consegue ainda reter bactérias, parasitas e vírus.

Nesse processo de filtragem por gravidade, a água passa lentamente pela vela e goteja no reservatório inferior. A pressão que o líquido exerce na vela faz com que os poluentes sejam retidos com mais eficiência. “A filtração eficaz por meio do carvão ativado depende de muitos fatores. Os mais importantes são o tempo que a água fica em contato com o carvão — quanto mais lento o fluxo, mais eficiente a filtração—, a densidade, a quantidade e o tempo de uso do carvão”, esclarece Ingram, no livro. O filtro de barro existe no Brasil desde o fim da década de 1920 e permanece popular em razão da qualidade e do preço: um modelo de quatro litros custa em torno de R$ 80. Um filtro moderno, mas que usa a tecnologia antiga, custa a partir de R$ 200.

É importante, porém, ficar de olho na limpeza. O ambiente úmido e quente é altamente propício para o desenvolvimento de bactérias. Maria Anita Scorsafava, técnica responsável pela seção de águas do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, alerta para a necessidade de manter o filtro em bom estado. “É preciso limpar a vela com uma escovinha. O ideal é esfregar e não passar mais nada. Isso serve para liberar os poros que absorvem sujeiras e para tirar o ferro acumulado na vela”, ensina. Ela acrescenta que a peça precisa ser trocada a cada seis meses de uso. Thiago Muniz conta que não se incomoda com a manutenção. “Eu não considero que dá trabalho. São coisas de que eu gosto de fazer”, afirma o analista ambiental.

A feira no quintal

O livro de Colin Ingram mostra como é complicado obter informações sobre as reais características dos filtros disponíveis no mercado e sobre quais as substâncias estão presentes na água que chega em casa. Tarefa igualmente difícil é saber se os alimentos comprados nos supermercados têm procedência saudável.

“Na nossa sociedade, a gente perdeu muito a visão do ciclo da vida. Consumimos tudo como produto e não refletimos sobre o processo”, afirma a antropóloga Carolina Comandulli. Há quase dois anos, ela, hoje com 31, decidiu começar uma horta doméstica na casa em que divide com duas amigas, a jornalista Letícia Campos, 29, e a advogada Erika Yamada, 34. O grupo de amigas gosta de comida orgânica e costumava comprar alimentos de uma chácara, que também oferece cursos sobre como fazer hortas de pequeno porte.

Carolina decidiu, então, resgatar o contato que tinha quando pequena com a terra e começou a aprender sobre o cultivo de alimentos. A ideia inicial era aproveitar o espaço do terreno para plantar temperos e ervas, mas, com os bons resultados, Carolina expandiu a plantação. “Ampliei para hortaliças. Hoje, temos abóbora, abobrinha, alface, tomate, rúcula. Nós até paramos de comprar os produtos da chácara”, conta a antropóloga.

Embora plantar alimentos em casa seja mais barato que comprar no supermercado, Carolina conta que, para ela, o maior ganho se reflete na qualidade de vida. “É outra coisa você colher o alimento direito da horta, fresquinho e vivo, sabendo a proveniência. E não é só a questão alimentar, o trabalho com a terra é muito saudável também. É uma terapia”, diz a gaúcha de Porto Alegre.

Bom para a saúde e para o meio ambiente. A cultura do plantio de hortas domésticas pode ajudar na diminuição do uso de agrotóxicos. “Se tivermos mais pessoas plantando hortas em casa, nós estaremos produzindo alimentos que demandam poucos insumos, já que são espaços pequenos. Dá para trabalhar com produtos mais naturais e sem adição de químicos”, diz a engenheira agrônoma Ana Maria Junqueira.

Cheirinho de tradição

José Geraldo Lima, de 53 anos, é um fiel apreciador de café. Para ele, o melhor tipo é o feito no coador de pano. “Eu prefiro o cafezinho coado, tradicional mesmo. Tem um gostinho diferente”, explica. E, quando a mulher dele, Ivanilda Lima, de 56 anos, tenta mudar alguma coisa no modo de preparo, José Geraldo logo reclama. “Ela comprou um coador de plástico. Diz que é mais fácil de limpar, mas o café não fica igual”, justifica. Expresso, então, nem pensar. “Foge do gosto do café. É forte demais. Parece quase o gosto de chocolate amargo”, compara o militar aposentado.

O cafezinho coado, resistente nas mesas de alguns brasileiros, oferece uma experiência das mais agradáveis e ainda pode trazer benefícios para a saúde. Caio Reis é doutorando em nutrição e desenvolve uma pesquisa na Universidade de Brasília (UnB) sobre o mecanismo de ligação entre o consumo do café e a diminuição do risco do desenvolvimento do diabetes tipo 2, caracterizado pelo nível elevado de glicose no sangue devido à falta ou à má absorção de insulina. O pesquisador conta um fato curioso sobre o café coado. “Pelo modo de preparo, são retidas algumas substâncias que são prejudiciais e que poderiam estar ligadas ao aumento do colesterol e de triglicerídeos”, explica.

Professor especializado em bioquímica da nutrição, José Dórea acrescenta que o café não é um grão oleaginoso, logo, não é preciso de alarde ao se montar a dieta. “Não é algo com o que alguém que esteja controlando o peso precise se preocupar”, explica. O importante é prestar atenção na qualidade do grão para ter um bom café como resultado, avisa o professor do Departamento de Nutrição da UnB.

Considerado um alimento funcional — com ingredientes ativos que beneficiam o organismo de alguma forma —, o café é estudado por cientistas há muitos anos. Principalmente na última década, tem surgido mais pesquisas indicando que a bebida não é um vilão como alguns imaginam.

Um estudo divulgado, no mês passado, pela Clínica Mayo, nos EUA, comprova que o consumo regular do café contribui para reduzir o risco de colangite esclerosante primária (PSC), doença hepática autoimune. “Apesar de rara, a PSC tem efeitos extremamente negativos. Nós estamos sempre procurando maneiras de diminuir o risco(da doença)”, diz o autor do estudo, Craig Lammert, gastroenterologista da Clínica Mayo. A pesquisa foi apresentada durante o Digestive Disease Week 2013 — considerada a maior conferência de profissionais da gastroenterologia do mundo.

Fonte: Correio Braziliense

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