Cafeína prejudica o crescimento dos bebês


06.03.2013

Segundo estudo sueco, para cada xícara pequena de café consumida pela gestante a criança em formação pode perder até 28 miligramas. A substância também compromete a passagem de nutrientes da mãe para o filho

Durante a gravidez, um dos maiores desejos das futuras mamães é gerar um bebê saudável e forte. Para propiciar um crescimento adequado ao feto, a mulher deve se preocupar, principalmente, em manter uma alimentação balanceada e rica em nutrientes. Entre a lista de itens a serem evitados, no entanto, um dos mais difíceis é a cafeína. Presente no café, no chocolate, em chás, nos refrigerantes, nos energéticos e no guaraná, ela é amplamente difundida nas mesas de todo o mundo. Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter preconizado que 300mg por dia – cerca de três xícaras pequenas de café – é uma dose segura para as gestantes, um estudo realizado por pesquisadores do Hospital Universitário de Sahlgrenska, na Suécia, defende que até mesmo essa quantia pode interferir negativamente no peso do bebê e no tempo de gestação da mulher.

Publicada na revista científica BMC Medicine, a pesquisa analisou 60 mil gestantes, coletou detalhes do nascimento dos recém-nascidos e chegou à conclusão de que, para cada 100mg de cafeína consumidas por dia, o bebê, ainda dentro da barriga da mãe, pode perder de 21mg a 28mg. “Com os nutrientes e o oxigênio, a cafeína atravessa livremente a barreira placentária e chega ao embrião em desenvolvimento”, afirma o estudo. Durante o período fetal, entretanto, o ser ainda em formação não possui as enzimas necessárias para a demetilação da cafeína, e a substância acaba retida no líquido amniótico, dificultando a passagem dos nutrientes da mãe para o feto. De acordo com Ana Marily Suriano, neonatologista do Hospital Santa Luzia, por ser um estimulante do sistema nervoso central e acelerar o gasto energético e metabólico, a cafeína estimula a queima de energia do feto, comprometendo o seu crescimento. Entretanto, enquanto os estudos costumam relacionar a ingestão da substância ao parto prematuro, Suriano ressalta que a pesquisa inova ao falar que a cafeína pode ser responsável por prolongar o tempo de gestação.

“A cafeína estava sempre associada à prematuridade. No caso da gestação prolongada, como o feto entra em uma situação de desnutrição, de baixo peso, ele tentaria prolongar a gestação para recuperar esses nutrientes ainda dentro do útero”, explica Suriano. Entretanto, o que a pesquisa mostra é que, mesmo permanecendo algumas horas a mais dentro da mãe – para cada 100mg de cafeína por dia, foi detectado um aumento de cinco horas total de gestação – , os médicos do Hospital Universitário de Sahlgrenska observaram a persistência do baixo peso das crianças ao nascerem. As consequências imediatas do peso fora do esperado são principalmente uma maior chance de desenvolvimento do quadro de hipoglicemia, diminuição no nível de glicose no sangue que afeta o fornecimento de açúcar ao cérebro. “A desnutrição fetal pode levar à alteração neurológica da criança e estimular a convulsão. Além disso, se ela nascer abaixo de 1,8kg, vai ter de ser hospitalizada na UTI e ficar separada da mãe”, alerta Suriano.

Falta consenso

Desde a década de 1970, a comunidade médica tem dado maior atenção à possibilidade de efeitos prejudiciais da cafeína sobre o feto, como a diminuição do crescimento, a prematuridade e as malformações. As hipóteses motivaram a recomendação para a redução do consumo na gestação, mas não há um consenso dos males causados pela substância. Para Joana Lucyk, nutricionista da clínica Saúde Ativa, se há controvérsias e resultados que apontam algum tipo de problema, o melhor é evitar a ingestão.

“O tempo que a cafeína fica no organismo da gestante é muito superior ao período que permanece em mulheres não grávidas. Até elas conseguirem excretar a cafeína, pode levar de sete a 11 horas. Na outra condição, demora no máximo cinco horas”, compara Lucyk. A nutricionista pondera que a mulher com boa condição de desintoxicação, ou seja, de filtrar as substâncias no fígado e na placenta, pode evitar que a cafeína fique muito tempo no organismo dela e chegue ao feto. “Tudo o que entra de estranho no organismo, tudo o que não é nutriente, precisa ser biotransformado para ser excretado. Para esse processo, a gente depende de vitaminas, minerais e aminoácidos”, explica a nutricionista.

Nas gestantes, ela acrescenta que essa necessidade por nutrientes é ainda maior. A requisição por vitaminas do complexo B, por exemplo, cresce de 30% a 40%. Nesse caso, se a mulher grávida toma cafeína e não tem uma boa capacidade de biotransformação, a chance de a substância passar pela placenta e chegar ao feto é muito alta. Por ser vaso- constritora, a cafeína diminui o fluxo de oxigênio para a criança e compromete a passagem de nutrientes da mãe para o filho.

Para os casos de má nutrição intrauterina, Lucyk alerta que o bebês que nascem com baixo peso têm maior probabilidade de, quando adultos, apresentarem doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, obesidade e hipertensão. Nesse ponto, ela ressalta a importância do aleitamento materno exclusivo no primeiro ano de vida da criança como uma estratégia importante para facilitar o controle neuroendócrino e diminuir a chance de obesidade.

Além das consequências para o peso, a nutricionista cita estudos que levantam a hipótese de a cafeína provocar mudanças no DNA do feto. “Ela tem estruturas parecidas com as de alguns componentes do DNA. Como passa pela placenta, muito pesquisadores não recomendam o seu consumo porque pode ser absorvida pelo organismo e desempenhar um potencial metagênico”, explica Lucyk, ressaltando que esses efeitos são ainda suposições.

Diante da polêmica, o que a neonatologista Ana Marily Suriano pondera é a importância da moderação. Para ela, um consumo dentro dos padrões estabelecidos pela OMS para gestantes não confere problemas ao feto. O importante é que a mãe evite os excessos não só de cafeína, mas de alimentos gordurosos, frituras e álcool, e, durante a gestação, seja acompanhada por um médico.

Alta mortalidade

De acordo com estudo do Ministério da Saúde e coordenado pela Fiocruz, a prematuridade é hoje a principal causa de mortalidade de crianças de até 7 dias de vida. Ela atinge 10,5% dos nascimentos no Brasil. Somente em 2010, foram quase 280 mil crianças prematuras no Pais. Os pesquisadores chegaram às conclusões após entrevistarem 24 mil gestantes e mulheres no puerpério de 191 municípios brasileiros e 266 hospitais públicos e privados. As mães foram acompanhadas por até 60 dias após o parto.

Fonte: Jornal do Commercio RJ

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