Cirurgia pós-bariátrica requer cuidado


09.05.2013

A cirurgia bariátrica hoje é adotada como forma de combate a diversas doenças, entre elas diabetes, hipertensão, obesidade e outras. No entanto, há algumas controvérsias por conta do uso indiscriminado do procedimento. Isso sem falar das consequências que muitas pessoas apresentam após a cirurgia, conforme mostra um estudo do Hospital de Clínícas (HC), da Universidade Estadual de Campinas, que aponta para o fato de que 88% – de 36 pessoas avaliadas pós-cirurgia – estão com deficiência vitamínica por má alimentação.

Além disso, outro inconveniente comum é a necessidade de cirurgias plásticas para recompor o contorno visual, quando há uma perda de peso elevada. Independente do caso, é preciso estar bem acompanhado por equipes multidisciplinares a fim de obter o melhor resultado.

Segundo a nutricionista Renata Cristina Gobato, responsável pela pesquisa do HC, “a perda de peso é importante para evitar o risco de desenvolver diversas doenças. Por outro lado, é preciso estar atento às questões nutricionais para se evitar quadros de deficiências. O zinco, por exemplo, é um componente nutricional importante, pois participa de todo o metabolismo, com importante função antioxidante, imunológica, regulando o paladar e o apetite”.

A nutricionista explica que o consumo alimentar antes da cirurgia também deve ser reforçado, pois no estudo a deficiência já existia. Além de deficiência de zinco e cobre, a nutricionista constatou que algumas deficiências nutricionais no obeso já ocorriam antes da cirurgia. Por isso, Renata reforça a importância de que se realizar exames e fazer a reposição de vitaminas deficientes antes da cirurgia.

Paciente bariátrico

Por ser a pele o maior órgão do corpo humano, é muito comum que seja um dos mais afetados quando a pessoa passa pelo procedimento de cirurgia bariátrica, afinal, a pele ficou esticada por muito tempo pelo volume de gordura. A única forma de devolver seu aspecto normal em muitos casos é retirando o excesso. Mas é preciso estar atento aos riscos que isso pode trazer. Segundo o cirurgião plástico João Cantarelli Filho, de Rio Preto, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em tempo algum uma cirurgia plástica pode ser considerada sem risco. “Sempre haverá riscos”, diz.

O médico observa que existem três tipos de pacientes: aquele que quer uma cirurgia reconstrutiva, seja por um câncer de mama, ou outra situação desta natureza; o paciente que é estético, e quer fazer uma lipoaspiração ou outra cirurgia pequena, e o paciente pós-bariátrica. “Este paciente teve todo seu metabolismo de anos de repetição modificado abruptamente após uma agressão em seu sistema digestório. Abalou toda sua estrutura anatômica e fisiológica. Seu catabolismo e seu anabolismo celular não serão mais os mesmos e não são similares nem ao paciente doente e nem ao sadio”, diz.

Cantarelli explica que esse tipo de paciente é o “terceiro elemento”. Para o médico, o paciente bariátrico requer um cuidado maior que os outros dois, uma vez que ainda se está aprendendo com ele. “Haverá uma maior variedade no sistema biológico dele. Para completar, sua estrutura psicológica também foi modificada. E aí? Não sei, entendo que devo tratar este paciente com uma vigilância constante no pós-operatório de sua cirurgia plástica, isto é, não desprezar qualquer sintoma e ou sinal que o paciente por ventura venha apresentar”, diz.

Cuidados

O excesso de pele se torna um incômodo na maioria dos casos pós-cirurgia. E, em boa parte deles, quando há perda excessiva de peso, a pele não consegue mais voltar ao tamanho anterior. É neste momento que é preciso ter cuidado. Para o cirurgião plástico Alderson Luiz Pacheco, de Curitiba, ao ter um excesso de pele, além da questão estética, não é raro encontrar pessoas que desenvolvem infecções bacteriana, fúngica e viral por causa desta situação. “Em alguns casos, há dificuldade de manter limpas e secas as dobras de toda a extensão corporal, sem falar na dificuldade para a prática do exercício físico”, diz.

Por isso, a cirurgia plástica é uma das alternativas mais recorrentes para solucionar esse problema. Evidente que cada caso tem de ser corretamente avaliado, pois o grau de flacidez vai ser determinante para um bom resultado. “Um indivíduo que se cuidou a vida inteira, adotando um estilo de vida mais saudável, com alimentação adequada, praticando esportes, controlando a exposição ao sol e não fazendo uso do cigarro, tende a apresentar uma pele melhor e, provavelmente, necessitará de intervenções de menor porte”, explica.

‘Não devemos atender a impulsos’

Nesta entrevista, o cirurgião plástico João Cantarelli Filho, de Rio Preto, fala sobre a cirurgia plástica e o paciente pós-bariátrica.

Diário da Região – Que tipo de ajustes a cirurgia plástica pode fazer em que se submeteu à cirurgia bariátrica?
João Cantarelli Filho – Todos. Alguns com resultados mais favoráveis e outros menos. É preciso entender que o total de adipócitos (tecido gorduroso) do paciente não diminui pós-cirurgia bariátrica e que as cirurgias plásticas devem ser direcionadas neste sentido e sempre respeitando a vontade do paciente com a região ou área que mais, no seu entender, está incomodando-o após a perda de peso. Sou contra cirurgias longas e várias cirurgias num mesmo paciente pós-bariátrica. Obviamente, devemos sempre otimizar o ato cirúrgico. Isso não implica em atender ao impulso do paciente ou ao impulso do cirurgião, ou ainda a interesses mercantilistas possíveis de ambas as partes. A lipoaspiração deve ser considerada uma cirurgia e devemos, quando associada a outra cirurgia do contorno corporal, como a abdominoplastia ou a mamoplastia, retirar em torno de 1500 mililitros de volume, até no máximo 2000 mililitros, de acordo com o tamanho do abdome e considerando uma lipoaspiração úmida original, ou seja, realizada com aparelho de pressão negativa e ou seringa. Quando o paciente emagrece, ele nunca perde peso por igual. Poderá apresentar um abdome em avental e continuar com coxas muito grossas, adiposas. A região glútea e o trígono femoral são áreas que perdem sua estrutura no emagrecimento. Nestas regiões, há adipócitos chatos, que seguem seu curso sem respeitar nenhuma regra. Cabe ao cirurgião plástico enxergar o melhor possível para o paciente.

Diário – E quanto à questão das queloides, é possível saber quem vai ter ou não?
Cantarelli – Não. Sabemos algumas coisas importantes sobre as cicatrizes hipertróficas e queloidianas, mas ainda não dominamos o processo de cicatrização no corpo humano. Sabemos muito mais que sabíamos há dez anos, porém ainda precisamos de mais estudos. É preciso considerar que no paciente pós-bariátrica a cicatriz poderá ser maior que no paciente sem bariátrica, e que a tração tem de ser justa, sem ser excessiva. Vale repetir mais uma vez que o metabolismo do paciente está alterado e ainda não sabemos como isso irá influenciar a cicatrização. Os exames pré-operatórios precisamente solicitados auxiliaram nessa busca.

Diário – E com relação às cicatrizes longas, já existe alguma alternativa para não deixar aquelas marcas embaixo dos braços, nas coxas, enfim, em vários lugares?
Cantarelli – Discordo da maioria dos cirurgiões plásticos que entendem ter mais liberdade com esses pacientes em colocar qualquer tamanho de cicatriz. Isso não condiz com o espírito do cirurgião plástico, que deverá sempre procurar camuflar a cicatriz e esconder seu rastro no corpo humano. A cicatriz deverá ser a menor possível sempre e ficar o mais escondida possível. A técnica de fechamento dos planos cirúrgicos é inerente a cada cirurgião plástico. Obedecemos os mesmos princípios cirúrgicos, imagino, porém somos bem diferentes.

Diário – Pode ocorrer algumas infecções nestes pacientes pós-cirurgia plástica, por estarem com excesso de pele?
Cantarelli – Não. Talvez o paciente pós-bariátrica, com seu metabolismo alterado, seu aparelho psíquico se reajustando e a adaptação a nova vida, sem aqueles 50 quilos, possa sim influenciar de alguma maneira em seu sistema imunológico, mas entendo que o cirurgião plástico deva prever isso já, antes mesmo do ato cirúrgico.

Diário – Quem tem uma vida saudável pode conseguir resultados melhores ao ser operado?
Cantarelli – Quem não bebe, não fuma, alimenta-se corretamente e não é sedentário, entendo que sim, ajudará favoravelmente no ato cirúrgico, porém não é só isso.

Fonte: Diário da Região

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